Diagrama de Shand - Índice de Alumina-Saturação
Diagrama de Shand com algumas amostras plotadas. Fonte: Alterado de Shand (1943).

O ÍNDICE DE ALUMINA-SATURAÇÃO NAS ROCHAS

O Al2O3 (alumina) é um óxido muito comum nas rochas, estando presente na composição de minerais félsicos e máficos que compõem os mais diferentes tipos de rocha. Devido a esta abundância do Al2O3 nas rochas, o índice de alumina-saturação se torna um conceito muito importante de se entender para melhor se classificar e interpretar as rochas. Este índice é mais utilizado em rochas ígneas, porém não se restringe somente a este grupo.

Durante este post falaremos um pouco sobre o conceito de alumina-saturação, os diferentes grupos de rocha baseados no teor de alumina-saturação e como quantificar este índice.

 

O ÍNDICE DE ALUMINA-SATURAÇÃO

É definido como índice de alumina-saturação (IAS) ou índice de alumina-saturação total (IAST) a relação entre a proporção molar de Al2O3 e a soma das proporções molares de Na2O, K2O e CaO.

Como o Na2O, K2O e CaO tem naturezas distintas (Na2O e K2O são óxidos alcalinos enquanto o CaO é um metal alcalino-terroso), é comum também a utilização do índice de alumina-saturação parcial (IASP), que é a relação entre a proporção molar de alumina e os óxidos alcalinos

As fórmulas do IAST e do IASP são expressas na figura abaixo (Figura 1).

Índice de alumina-saturação
Figura 1: Fórmulas do índice de alumina-saturação total (IAST) e parcial (IASP).

Observe a fórmula de alumina-saturação total e parcial. Note que o índice de alumina-saturação não depende somente da quantidade de alumina presente na rocha, mas também das quantidades de Na2O, K2O e CaO presentes na rocha.

Por exemplo, se uma rocha possui alto valor de alumina e valores mais altos de Na2O, K2O e CaO (se comparados a alumina), o valor de alumina-saturação tende a ser baixo. Porém se uma rocha possuir baixo valor de Al2O3 e ter valores muito menores de Na2O, K2O e CaO (se comparados a alumina), o valor de alumina-saturação será maior que no exemplo anterior.         

 

CLASSIFICAÇÃO QUANTO A ALUMINA-SATURAÇÃO

Agora que já falamos basicamente o que é alumina-saturação e como calcular estes índices, fica fácil entender uma classificação de rochas baseadas neste parâmetro. Observe o quadro abaixo (tabela 1):

Classificação baseada no índice de alumina-saturação
Tabela 1: Classificação baseada no índice de alumina-saturação.

Esta classificação é baseada nas proporções do IAST e IASP, sendo mais utilizada para rochas ígneas, porém não se restringe somente a elas. Nos exemplos abaixo usamos minerais formados durante uma paragênese ígnea (minerais que se formaram durante a cristalização da rocha) para melhor explicar como a alumina atua em diferentes situações.

As rochas peraluminosas possuem IAST > 1. Isto significa que estas rochas possuem valores de alumina maiores se comparados a soma de Na2O, K2O e CaO. Em rochas ígneas isso representa que a rocha tem excesso de alumina após a formação dos feldspatos ou feldspatóides. Estes minerais são minerais ricos em alumina e a abundância ou falta deste óxido em uma rocha afeta primeiramente a formação destes minerais. A alumina que sobra após a cristalização de feldspatos e feldspatóides é incorporada em minerais aluminosos como granada, cordierita, sillimanita, muscovita, biotita, corídon, turmalina, entre outros.

As rochas subaluminosas tem IAST = 1. Ou seja, a razão de alumina e o somatório de Na2O, K2O e CaO são iguais. Nas rochas ígneas isso quer dizer que se tem uma quantidade de alumina suficiente somente para formar os feldspatos ou feldspatóides, não sobrando alumina para formar outros minerais. É uma condição rara na natureza e devido a isto, muitos diagramas de alumina-saturação não mostram campos para as rochas subaluminosas.

As rochas metaluminosas tem IAST < 1 e IASP > 1. A razão entre alumina e o somatório de Na2O, K2O e CaO são menores que 1, mas se retirado o CaO desta operação o valor de alumina-saturação passa a ser maior que 1. Em rochas ígneas isso representa pouca saturação em alumina, tendo alumina somente para formar feldspatos de Na e K, afetando diretamente a formação de feldspatos de Ca. Nesta condição se é comum formar minerais ricos em CaO mas com pouca alumina, como hornblenda, epidoto e melinita (este último só ocorre em rochas insaturadas em sílica).

As rochas peralcalinas tem IAST < 1 e IASP < 1. Ou seja, a razão da alumina pelo somatório de Na2O, K2O e CaO ou de Na2O e K2O será sempre menor que 1. Nas rochas ígneas isso quer dizer que ocorre um déficit ou insaturação em alumina. Esta falta de alumina afeta não só os feldspatos de CaO como também os de Na2O. O sódio que não formará feldspatos sódicos entra na composição de minerais máficos sódicos como piroxênios (egirina e aegirina-augita) e anfibólios (arfverdsonita, cataforita, riebeckita, enigmatita e aenigmatita).

 

QUANTIFICANDO E CARACTERIZANDO A ALUMINA-SATURAÇÃO EM UMA ROCHA

Existem duas principais formas de se quantificar a alumina-saturação de uma rocha.

Pode-se classificar através de análises mineralógicas macroscópicas e microscópicas da rocha, observando os minerais portadores de alumina e se estimando em qual grupo a rocha se encaixa, visto que ocorrem diferentes minerais com quantidades de alumina variadas nos diferentes grupos de alumina-saturação.

Porém o método mais utilizado para se “medir” a alumina-saturação de uma rocha é através das análises químicas, principalmente análises geoquímicas de rocha total. Com os dados químicos em mãos fica fácil quantificar. Podemos usar o cálculo da NORMA e identificar os minerais que caracterizam cada grupo (como dito anteriormente, cada grupo de alumina-saturação possui alguns minerais específicos). Porém os diagramas de classificação são mais utilizados para se quantificar a alumina-saturação.

O diagrama mais utilizado é o chamado diagrama molar IAST/IASP ou diagrama de Shand (Figura 2) (em homenagem ao famoso petrólogo que ajudou na definição do conceito de alumina-saturação). Basicamente este diagrama é a razão do índice de alumina-saturação total pelo parcial. É bem intuitivo, basta o observar para o entender.

Diagrama de Shand - Índice de Alumina-Saturação
Figura 2: Diagrama de Shand. Fonte: Shand (1943).

Existem outros diagramas utilizados, porém não falaremos deles aqui. Nas referências deste post você encontrará fontes que falam sobre os outros diagramas.

 

 CONCLUSÕES

A alumina-saturação é um fator importante para classificar e interpretar uma rocha e o seu ambiente de formação. É uma variável que não depende somente da quantidade de Al2O3 na rocha, mas também depende das quantidades de Na2O, K2O e CaO, já que o índice de alumina-saturação é a razão entre a alumina e estes óxidos.

Apesar do índice de alumina-saturação ser mais utilizado para petrologia ígnea, não fica restrito somente a esta área, podendo ser aplicado em qualquer uma das petrologias.

É importante conhecer este termo, pois ele aparece frequentemente em textos geológicos técnicos e científicos. Se você chegou até aqui, espero que tenha entendido este conceito, que apesar de simples é muito importante.

REFERÊNCIAS

Wernick, E. Rochas magmáticas: Conceitos fundamentais e classificação modal, química, termodinâmica e tectônica. São Paulo: Editora Unesp, 2004. 656 p.

 Shand, S.J. Eruptive rocks. Their genesis, composition, classifications, and their relation to ore deposits with a chapter on meteorite (2a Ed). New York: John Wiley & Sons, 1943, 488 p.

Disponível em: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/magmaticos/magmaticas.htmlAcesso em: 13 de março de 2018.